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Cuiaba, Mato Grosso, Brazil
Farmacêutico, atualmente ocupando o cargo de Presidente do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso, Diretor Sindical e Diretor Regional do Centro Oeste da FENAFAR. Atuo como Professor Universitário e Farmacêutico do SUS. Não sou e nem quero ser "palmatória do mundo", mas procuro fazer minha parte!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Trabalho em Saúde: A Realidade do SUS


Meus caros! Estamos em plena discussão em Mato Grosso e também no Brasil, sobre modelos de gestão no SUS. Aqui em nosso Estado, que é imenso e belo, o Secretário de Saúde conseguiu emplacar, por 13 votos a 12, no Conselho Estadual de Saúde, a “Terceirização do SUS". Isso mesmo! A administração de algumas unidades (nesse começo) será feito por OSS. Muito se discute sobre as dificuldades do SUS e de seu mau funcionamento e infelizmente, quase sempre a culpa recai sobre o Servidor Público Trabalhador da Saúde, sempre taxado de preguiçoso e de levar o trabalho com a barriga.

Curioso é que quase nunca se discute sobre as más conduções de gestão e principalmente sobre as condições de trabalho que temos! Será que voltamos no tempo e continuamos a usar a prática de precarizar e dificultar o público para dizer que o privado é melhor?

Bom, isso é assunto para muita discussão. No entanto, uma grande amiga escreveu recentemente um artigo, cujo Título reproduzo do nome desse post.

O artigo foi escrito pela Fisioterapeuta Maria Angela C. Martins que é Mestre em Saúde Coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Especialista em Saúde Pública e Gestão Pública em Saúde pela UFMT, Vice Presidente do Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá e Vice Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cuiabá. O texto foi publicado no Jornal Folha do Estado em 19/04/2011.

Li e gostei bastante, por isso, solicitei a ela que me autorizasse a reproduzir o texto no meu blog. Bom, ai vai o texto:

"Trabalho em Saúde: A realidade do SUS

A Gestão do Trabalho em saúde volta a tona em tempos de discussão de organizações sociais, troca de secretariado e flexibilização de vínculos trabalhistas no estado e em Cuiabá.

Há claramente um total descaso frente à implementação de políticas públicas acerca do tema trabalhador em saúde, que parece amargar ainda na atualidade tudo de ruim que o sistema público possa oferecer, como se fosse ele, em sua limitação diária o responsável pelo caos instalado. Isso seria desumano, se não fosse estratégico por parte daqueles que planejam exatamente disseminar a idéia barata de que a saúde vai mal sim e em grande parte por responsabilidade de seus médicos, enfermeiros etc... Acreditem se quiser, ou se der menos trabalho, se for o caso!

O caos em que vive o trabalhador tem sua rotina marcada pela falta de segurança nos locais de trabalho, atividades insalubres com o adicional de insalubridade cortado, assédio moral constante, ausência de espaços de negociação permanente, infra - estrutura precária nas instalações físicas e ausência de carreira, no caso de Cuiabá.

Neste cenário quero ver mesmo é político dizer com toda a honestidade que o setor público ainda é um terreno onde o “apadrinhamento político” onde favores pessoais e os privilégios, constituem o principal motivo pela descrença nas possibilidades de mudanças e que o sentimento de iniqüidade e injustiça gerados por estas situações produz frustração em relação aos projetos pessoais e profissionais dos trabalhadores, levando á desmotivação e novamente á descrença na possibilidade de mudanças nestas organizações.

Quero ver mais ainda: o assumir de que ainda temos perfil de gestão patrimonialista focada em projetos políticos para mandatos com tempo de término e não de interesses coletivos para o fortalecimento de políticas públicas.

Na verdade os trabalhadores de saúde estão longe de estar na prioridade da agenda estratégica dos gestores como base para a concretização das ações e serviços de saúde disponíveis à população.

Fatores como a precarização das relações trabalhistas na saúde, a falta de estímulo profissional, os desvios de função, as duplas ou triplas jornadas de trabalho, a submissão a formas amadoras e arcaicas de vinculação e gestão e fragilidade nos espaços de negociação entre trabalhadores e empregadores, apontam para a grande dificuldade e pouco investimento no quadro de pessoal do SUS.

Resta saber agora: quem vai encarar? É necessário responsabilidade para a discussão, não precisamos mais de discursos rasos e fáceis com o único propósito de fazer valer um projeto político viável á um determinado grupo. Precisamos sim aprofundar a busca de soluções para que o trabalho em saúde possa efetivamente atender as necessidades da população que dele necessita."

Maria Angela C. Martins